sábado, 2 de julho de 2011

Ser Cristão

É ser, antes de tudo, seguidor de Jesus. Mas, quem é esse Jesus, chamado Cristo? Ao longo da história do cristianismo vemos os “discípulos” procurando dar respostas a essa pergunta, respostas tais que transformaram o enigmático Jesus em uma formatação sistemática, exaustivamente experimentada e subdividida em real, histórico, da fé, entre outros. O estudo cristológico prático (em termos teóricos temos destacáveis contribuições) tem criado uma caricatura de Jesus longe de ser o judeu errante vindo da Galiléia.
Quando lemos o evangelho (=boas novas) podemos observar que este Nazareno não queria criar uma religião, ou um sistema religioso fundamentado em dogmas e doutrinas bem articuladas, presas a uma lógica racional que enclausura seus seguidores. Pelo contrário, percebemos em Cristo uma ruptura radical de qualquer sistema opressor, inclusive a religião. Parece que ser cristão é mais um estilo de vida, que busca recuperar a humanidade de homens e mulheres, reconciliando assim a criatura com seu criador. Portanto, Jesus ensina que o adorador de Deus não precisa de um “totem” (monte ou templo) para servir de “espaço reservado para o encontro com o divino”, mas sim, o adorar em espírito e em verdade. Independente de tempo ou de lugar, para que não se crie uma hora pré-agendada com o kyriós.
Ser cristão é se envolver com as pessoas socialmente, é se encarnar de humanidade no meio de gente e se misturar com os outros, como um diferente igual ou igual diferente. Essa diferença não o torna especial, pois sua diferença está em zelar pelo valor da vida e é igual a todos por não fazer discriminação de ninguém. Nessa sociabilidade, procura ajudar o necessitado, inserir o marginalizado e defender os carecidos de justiça. É um promovedor do bem, sem se ater a cor, raça, sexo ou classe. Como Jesus, curtir festas e participar de casamentos (foi em um casamento o seu primeiro sinal), andar no meio do povo e dar “umas escapadas” – quando o povo quiser torná-lo um pop-star. É sair caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento, e ensinar o melhor caminho, a melhor decisão, a melhor escolha. O cerne do seu ensino está em amar: amar a Deus com toda força e entendimento e amar ao próximo como a si mesmo. Isso levará o cristão a buscar o seu reino utópico, que sempre está para além de nós, mas que, se tornará mais próximo, quando nosso encontro escatológico for aqui e agora, capaz de trazer o transcendente para a realidade imanente.
Ser cristão é ser taxado, rotulado. As mais simples rotulagens que o marginal de Nazaré recebeu, foram: comilão e beberrão, talvez pela disposição que o Nazareno tinha em aceitar os convites festivos de uma ou outra visita. As mais cruéis foram endemoniado e blasfemador, certamente pela coragem de sustentar a heresia de ser homem, sendo Deus, sem confirmar sua divindade, sem ser marketeiro, e por não trilhar o caminho da realeza material e esnobe-esbanjadora. É ser contra a ortodoxolatria, ou a aceitação por mínima que seja de uma ortodoxia blindada e fechada. A fé praticada pelo Cristo é antagônica a religião infantilizadora. Nesse caminho, os “religiosamente corretos”, ou doutores da lei, lançarão torpezas diversas e impropérios variados, a fim de mostrarem-se verdadeiros servos de deus.
Ser cristão é ser, alfabetizado por Jesus, o Cristo. É confrontar o ensino paulino, o ensino vetero-testamentário, ou qualquer ensino bíblico, com Jesus, pois: “para onde iremos se só tu tens as palavras de vida eterna?”. Nossa “lente” tem que enxergar o santo Galileu, verbo encarnado, para não tornar a bíblia insípida, incolor e inodora para a práxis cristã. Assim sendo, veremos este cristianismo desfigurado se cristianizando e pouco-a-pouco, abraçando os valores do messias.
Quando olhamos para o cristianismo moderno e histórico, vemos que ser um religioso cristão é ser qualquer coisa, menos Cristo. Essa distância se dá pela ruptura com os ensinos de Jesus, e com sua graça. É preciso aceitá-lo de novo. Aceitar sua maneira irreverente e reverente de viver, aceitar seu ensino por mais idiota que seja (amar e perdoar, por exemplo, parece idiota?) e abraçar a causa dos excluídos, dos esquecidos e deixados de lado. Isso é apenas uma pequena parcela do que é ser cristão.
Dei gratia,
Nino Vieira.