quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O estranho caso entre a fraqueza e a virtude

A maioria das pessoas exaltam os fortes, os vitoriosos, os grandes, como sendo os mais notáveis dentro da sociedade. Os que se destacam são tidos como heróis, “os bons mocinhos”, os qualificados de status quo que merecem as medalhas, os elogios e o “paparico” de todos. O presente século nos impregna de uma visão que diz: É necessário vencer, ser bom partido e ter uma gorda poupança. Conquistar isso não me parece um problema, mas como conquistar.
Nosso imediatismo secular nos constrange a conseguir nossas realizações a todo custo. O meio para obter o fim não importa, mas chegar ao objetivo. O resultado disso tem sido uma sutil corrupção de valores básicos. Para nossas conquistas e realizações precisamos de alguns ingredientes que possam compor a estrutura básica de nossas virtudes: segurança, confiança, auto-estima e reconhecimento. O conjunto destes elementos alinhado ao apelo do sistema secular mostra o quão forte e poderoso esse indivíduo é. Daí o conceito mais comum de virtude estar relacionado com elementos tão individualistas, formando pessoas cada vez mais egoístas e cheias de si.
Uma reflexão nas principais palavras que caracterizam o ser virtuoso revelará algo estranho no ar. Vejamos a humildade. O humilde reconhece suas limitações e conduz a sua vida de maneira simples, se dispõe a se relacionar com gente “diferente”, marginalizada, de “classe inferior”, por não se achar melhor que estes. Isso discorda com a mentalidade atual que diz: vença o melhor. Vejamos a mansidão. O manso, procura ter controle sobre si, leva em consideração o respeito que deve ter pelo outro, porque é tranqüilo e sossegado. Que contraponto com a realidade vigente! O que dizer do pacífico. O que promove a paz está em desconexão com a era comum. Ser pacífico é está desarmado e não manter a paz na força de um exército poderoso. Outra virtude é a bondade. Só é possível fazer bondade se vermos a necessidade do outro. E a justiça? O justo não cresce a custo de uma exploração aproveitadora, não passa “por cima”, não usa de qualquer meio (lícitos ou não). Por fim, vejamos o amor. Quem age em amor se desarma, percebe o próximo, é diferente (para o bem) não indiferente, se relaciona e atende, é altruísta, é caridoso.
O que tem em comum nas características acima? A fraqueza. O fraco se humilha e reconhece suas limitações. O fraco é manso e pacífico, por não ser violento e não gostar de guerras, discórdias e dissensões. O fraco prefere não se corromper para ter. O fraco não se arma para um relacionamento, não se arma para promover o bem, apenas está lá desarmado. Que sina dos fracos! É a fraqueza que tenta subverter uma realidade tão cruel e banal. Onde está Deus nisso?
Segundo as cartas joaninas, Deus é amor. Então, ouso em dizer: Deus é fraco. Somente a fraqueza de Deus pode justificar o encarnar-se humano para nos ensinar a viver; o ensinar a felicidade e ainda ser incompreendido, por gente que quer manter seu “poder”; por amar de tal maneira o mundo (e as pessoas), que sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; e que foi condenado injustamente, não para acalmar a ira de Deus sobre a humanidade, mas apenas por nos ensinara viver.
Existem muitas características da virtude. E a que se relaciona com a virtude de modo muito estranho, devido à realidade e a história, é a fraqueza. Este parece um caminho não muito trilhado pelas pessoas, tanto seculares quanto religiosas. Todos querem ser fortes e imbatíveis. Deus nos ensina que a nobreza é diferente. É ser humilde (lembra da manjedoura?), é ser simples (lembra do status quo de Jesus? comilão e beberrão), é ser manso (lembra da cruz?), é ser fraco (lembra que o Nazareno rejeitou todos os favores, as facilidades e os poderes que Satanás queria dá-lo na tentação do deserto?). Parece que o Jesus-Deus, ou Deus-Jesus, não se importa com isso. Ele se importa mais em viver e ensinar a viver, com dignidade e respeito, mas principalmente com amor (a Deus e ao próximo).
Como a fraqueza é forte. Devo lembrar que a fraqueza de Deus é mais forte que os homens. Cristãos, eis aí um caminho estreito para a subversão, para a radicalização que gere uma mudança real na história. Será que é possível? Em sua fraqueza, Deus nos deu liberdade, por isso é possível que a humanidade frustre o querer de Deus, mas jamais a sua paciência, seu amor e sua disposição de querer sempre agir conosco (Não age no mundo, mas em nós) e em tudo intervém para o bem dos que o amam. Que virtude essa difícil de entender a fraqueza, e que relação estranha ela possui.
Dei gratia,
Nino Vieira.