sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A falta de tato dos vermes

Nada poderia ser pior. Ao longo de um dia tranqüilo, problemas resolvidos e uma rápida parada para um lanche, aconteceu o que há de mais desumano, a insensibilidade de se perceber a fome do próximo, sua dor, a dor do vazio.

Seja motivo de lamentação esta noite tão crua. Crua, pela falta de percepção do outro, pela falta de visão (mesmo com óculos não fui capaz de enxergar), pela falta de audição (não me adiantou de nada ter feito um exame de audiometria) e como essa crueza foi assustadora, pois revelou uma insensível crueldade de agir naturalmente como uma máquina rápida de repetição metódica programada para dizer apenas: não tenho!

O crime aconteceu assim. Era noite, a sublime beleza das trevas carregadas por nuvens nubladas já revelariam que os céus derramariam suas lágrimas. De um lado, um homem acompanhado da amada, com sua mente ocupada em coisas relevantes e importantes. Do outro, uma mulher, macróbia cansada, guerreira da vida, sem beleza para chamar atenção, de uma voz baixa –quase imperceptível- a dizer: dê-me um pedaço de bolo, por favor! Como uma apunhalada pelas costas, assim soou a resposta: não tenho. Um simples não tenho tão prático e desnecessário, tão desumano e vil. Não pela resposta, por que poderia ser mesmo que eu não tivesse como dar, mas pela falta “de tato”, de não observar o ser humano que estava ali do meu lado.

É difícil me sentir assim, um pecador. Mas este pecado doeu na alma. Não conseguir tirar da mente tamanha falta. Aquela senhora foi usada por Deus. Suas simples palavras e seu simples ato de se virar e prosseguir, foi como uma mensagem exortativa do Senhor: tive fome e me deste de comer (Mt.25:35). Senti-me como aqueles que não fazem o que é de mais simples da vontade de Deus. Amar o próximo.

Não quero ser assim. Se agir assim, me tornarei como um “verme”, no seu vil estado incapaz de entender, perceber e bem-fazer, para pessoas que na maioria são desconhecidas, mas que são segundo a imagem e semelhança do Altíssimo. Só me resta pedir perdão. Perdão àquela senhora que não conseguir encontrar mais e perdão para meu Senhor, o autor da vida. Que tenha misericórdia de mim, pecador (que eu sempre venha lembrar-se disso).

Minha oração desta noite lamentável é esta: transforma-me Senhor, para não me conformar com nada; liberta-me Senhor, para não me escravizar a nada; humaniza-me Senhor, para não me desumanizar por nada. Preciso de um avivamento, algo que aqueça o meu coração para lutar contra a fome, para agir contra o desrespeito e para ser solidário com os necessitados. Permita-me andar com os desaforados, com os marginalizados e com os esquecidos, para tentar levar-lhes uma boa notícia, uma palavra de salvação. Não me deixes cruzar os braços e nem trancar meu coração. Amém.