Existe uma atitude totalmente ridícula que revela uma
fragilidade nas relações sociais de alguns religiosos. Falo da espiritualização
das coisas. Como é pobre a pessoa que não assume seus atos e coloca na conta de
Deus, dizendo que foi revelado pelo Altíssimo para tomar determinada decisão.
É pobre de espírito, não por ser humilde de espírito, mas
por desprezar o próprio espírito que o humaniza. É pobre de espírito aquele que
teme levar um fora da “enamorada” por que acredita que tem que saber se é de
Deus. É pobre de espírito aquele que justifica sua saída da igreja para ir a
outra afirmando que o “tempo de Deus” na antiga acabou. Seria mais honesto e
verdadeiro se o religioso dissesse que apenas não se identificou com o lugar e
que se identifica mais com o outro.
Essas pessoas gostam de maquiagem espiritual, tem fala mansa
e jeito piedoso, mas perderam sua humanidade por se travestirem de santo. O que
eles chamam de espiritualidade eu chamo de artificialidade, de arranjo, de charlantalismo.
Em termos bem religiosos, eles são os mentirosos. Não na mentira que costumamos
rejeitar, mas na mentira que geralmente é aceita em nome da fé. São figuras que
tem dificuldade em discernir as coisas e a vida. Geralmente, alguns se acham
bem conhecedores da escritura, outros se acham bem amadurecidos na experiência
com o divino, e ainda outros, os detentores da verdade. Quando a “verdade” não
lhe cabe, diz: não gostei desta doutrina, como se conhecessem bem aquilo que
creem.
O pior de tudo é que eles têm uma língua bem grande. Saem da
igreja e pulam de galho em galho resmungando suas justificativas peçonhentas e
azedando o coração de alguns que lhes dão ouvidos. Quando não dão certo no
namoro, diz que não era de Deus e que fulana de tal era uma pecadora. Esses
absurdos só revelam quem essas pessoas são.
Infelizmente as igrejas estão cheias deste tipo de pessoas.
Elas estão nos holofotes da vida ordinária dos guetos eclesiais. As igrejas
gostam delas por poderem demonstrar aos outros o quanto suas igrejas são
“espirituais”; as igrejas gostam delas por poderem manipular suas línguas em
favor de um marketing boca-a-boca; as igrejas gostam delas por saberem que elas
enchem o ego da autoridade eclesiástica bem como daqueles que dão dízimo gordo.
É assim que funciona. E dessa forma a igreja de Jesus Cristo
cresce. Bem que podemos perguntar: que igreja é essa? Lamento pelas pessoas por
serem mais fáceis de serem enganados por elas. Se um dia o grupo de críticos
aumentarem mais que o número de fiéis que aceitam tudo como algo espiritual, se
verá uma igreja diminuir por causa de seu alicerce mal feito. Quem tem ouvidos
para ouvir, ouça.
Dei Gratia.